Nossaaaaa.... faz tempo que eu não posto nada né?!?! Que loucura... loucura é a vida...
Andei fazendo uma faxina e encontrei alguns textos que gosto muito e guardo com o maior carinho para de tempos em tempos reler... e não esquecer... vou postar alguns aqui para vocês... PESADELO"Quando o muro separa uma ponte uneSe a vingança encara o remorso puneVocê vem me agarra, alguém vem me soltaVocê vai na marra, ela um dia voltaE se a força é tua ela um dia é nossaOlha o muro, olha a ponte, olhe o dia de ontem chegandoQue medo você tem de nós, olha aíVocê corta um verso, eu escrevo outroVocê me prende vivo, eu escapo mortoDe repente olha eu de novoPerturbando a paz, exigindo trocoVamos por aí eu e meu cachorroOlha um verso, olha o outroOlha o velho, olha o moço chegandoQue medo você tem de nós, olha aíO muro caiu, olha a ponteDa liberdade guardiã braço do Cristo, horizonte Abraça o dia de amanhã, olha aí"(Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro)Entrevista do compositor Paulo César Pinheiro:Como era fazer música na época do gerenciamento militar?PCP - Olha, eu participei de movimento estudantil, e naquela época os diretórios eram células fortes dentro das faculdades. Os estudantes se reuniam e discutiam o mundo, ao contrário do que ocorre hoje. Os meninos estão sem ideal, perdidos, não sabem o que fazer. A gente com 16, 17 anos estava querendo mudar o mundo. A gente se reunia, ia para rua, brigava.A partir do momento em que comecei a gravar, já fui tendo problemas com a censura. Tive muita música censurada, discutia com o censor; um suplício porque eram muito ignorantes. Tinha uma música, também de 68, Sagarana, cuja letra eu fiz em homenagem ao Guimarães Rosa, um dos meus escritores prediletos, a ponto de chegar a dominar sua linguagem e a escrever igual a ele se eu quisesse. Fiz essa composição assim, como uma letra de música semelhante à sua literatura. Ela foi muito comentada. Partia de uma idéia inusitada, diferente, original. A censura alegou que ela havia sido escrita em linguagem cifrada, de código, e a canção foi vetada.Fui discutir na censura com um livro do Guimarães Rosa debaixo do braço. E disse para o censor: "O nome dessa música é Sagarana, por causa desse livro". Mas era muito difícil conversar com esses caras.Outra minha, Cordilheiras, ficou cinco anos presa numa gaveta de censura. Eu acabava virando uma bola de ping-pong naquele prédio da polícia federal, em Brasília, de sala em sala. Quanto mais argumentava, eles, não tendo saída para os nossos contra-argumentos, mandavam-nos para outro censor. No final, caíamos no primeiro, de novo. Era um inferno, tanto a censura federal, quanto a local, na esquina da Senador Dantas com a Álvaro Alvim. Nós escrevíamos por metáforas, fazíamos o que era possível para que a música pudesse passar. Algumas músicas claramente contra o regime passavam, outras, que não tinham esse teor, eram vetadas. Por que isso?PCP - Uma lupa se voltava sobre o que era dito pelas pessoas marcadas. Outras, não. Músicas de carnaval, aquelas rotuladas de "brega", sempre passavam batidas, eram carimbadas e liberadas. Certa vez aconteceu um fato curioso com uma música, minha e do Maurício Tapajós, chamada Pesadelo, que virou um hino de guerra. Quando fizemos a música, mostramos para o pessoal do MPB- 4: "Não adianta nem pensar na gravação; não vai dar nem pé". E a gente disse: "Se passar, vocês gravam?". Um pouco descrentes, eles responderam sim.Fui contratado pela Odeon e fiz um disco em 72. Comecei a entender o funcionamento das gravadoras, e via como elas mandavam as músicas para a censura. Num determinado momento, a censura nem aceitava mais a letra escrita, queriam a gravação, porque na gravação poderia conter uma segunda intenção. Então eu disse: "Olha, eu vou fazer uma malandragem. Vou mandar essa música no meio de um bolo que a Odeon sempre manda." Era um período em que havia muito material para mandar. Tinha um disco do Agnaldo Timóteo, com aquelas canções derramadas, e outras coisas românticas. Pedi a um funcionário da casa que enfiasse Pesadelo no meio desses discos. Assim, a música veio liberada. E o MPB-4 a gravou.Mesmo depois de liberada, as pessoas tinham medo de gravar, mas o MPB-4 sempre foi valente. Apesar disso, toda vez que eles cantavam Pesadelo, ninguém entendia como tinha passado pela censura. As emissoras de rádio começaram a não tocá-la. E qual a música desse período que mais te marcou?PCP - Pesadelo, sem dúvida. Contaram que durante a Guerrilha do Araguaia, na selva, eles cantavam Pesadelo. Dizem ter sido a música que mais ajudou, nessa fase de luta armada, a todos eles, a mais forte politicamente que a gente fez, e a única direta, sem subterfúgios, sem metáforas, que passou. Fonte: Site www.anovademocracia.com.br