Como o tempo passa... e parando para pensar no tempo, como não falar novamente de amor. Difícil não falar de amor!
Ainda vejo uma menina, perdida, subindo e descendo a mesma avenida várias vezes ao dia... entra numa loja, entra na outra, na outra, volta na primeira... e repete o mesmo percurso por dias e dias... como quem procura algo muito raro.
Anda com pressa, com olhar tão distante quanto brilhante... perdida em seus pensamentos... perdida em seus movimentos... é uma cena intrigante.
Depois de semanas no mesmo percurso, enfim, encontrara... encontrara o vestido que a cobriria para o grande dia... encontrara a sandália que a levaria para o local especial... encontrara muitos enfeites que jamais usara... queria usar tudo no mesmo dia, o dia tão esperado...
Que tal colocar uma tatuagem para parecer mais velha? Colocou logo duas!
Mas como se arrumar para esse momento? Até poucos dias só penteara sua Barbie. Jamais se arrumara... Como deveria se comportar? Como o cabelo deveria pentear? Ela só entendia de Barbies e lápis de cor... o que fazer? Para onde correr?
Ligou para a tia, perguntou onde e como comprava essa tal de base, pó, sombra, rímel, blush e afinal qual seria a diferença entre lápis e delineador que as colegas de escola e as revistas tanto falavam? Realmente ser "grande" era algo muito complexo.
Se ela soubesse que quase nada disso era necessário, porque o ar da juventude é a melhor maquiagem que se pode ter, não teria se preocupado tanto...
Tudo comprado, mas e agora? Como usa essa tralha toda? A tia disse que a ajudaria. Ufa!
Todo mundo usava esmaltes coloridos... como é que é que chama esse negócio? Manicure? Que palavra LINDA! A amiga da tia era isso aí e poderia ajudar. Que alívio! Esse negócio de cutícula é mesmo necessário? Nunca havia tirado cutícula da sua Barbie!
Falaram que esse negócio de tirar sobrancelha não doía! Enganação! Lágrimas e lágrimas. Muito sofrimento. Deus todo esse sofrimento era mesmo necessário?
Era, era o grande dia. E no grande dia tem que ter tudo.
Certo, tudo pronto! Apenas uma noite separava o momento atual do grande dia.
Mas como dormir? Quem consegue pensar em dormir? É verdade. Ela não dormiu, se não estragaria o penteado do cabelo que a tia arrumara. Melhor tentar cochilar sentada.
O pai a conduzia ao grande dia. A família toda estava presente. Todos dormiam. Menos ela.
Deu vontade de voltar correndo para casa, esconder de baixo da cama e abraçar as Barbies e os lápis de cor. E se tudo o que sonhara e imaginara ao longo de longos, bem longos, quatro anos fossem apenas uma ilusão? E se nada daquilo fosse verdade. E se se decepcionasse? Mas a a avó, madrinha, primas e tias dele jamais pintariam algo que ele não fosse, será? Lembrara da última vez que estiveram próximos, tipo sei lá quantos mil metros, mas no dia o coração sentia tão perto.
Passou uma eternidade até amanhecer o grande dia.
Será que os filmes fotográficos seriam suficientes? Eram 6 com 36 fotos cada um... Não queria perder nenhum detalhe daquele grande dia.... melhor comprar mais uns dois! Prevenir sempre! Isso desde os tempos de Barbie! Barbie jamais saiu com Bob (infelizmente ela nunca teve um Ken - um eterno amor platônico) sem ter uma roupa reserva na bolsa! Tudo pode acontecer.
E é claro que como em todas as novelas mexicanas que assistira, algo tinha que dar errado!
A família estava atrasada.
O pai que a conduziria estava na maior tranquilidade do mundo, como se fosse um dia qualquer. Ninguém podia imaginar o que acontecia no coração da garota.
Nem ela sabia explicar. Talvez fosse como tomar 2 litros de Coca Cola de uma vez só, você fica com a sensação de que vai explodir e vomitar tudo o que comeu em toda a sua encarnação.
Ou um vulcão em erupção, das aulas de geografia, seriam melhor para explicar?
Coração apertado.
Parecia que tinha comido um pacote de balas ácidas e que todo aquele ácido corroía seu coração até ele não existir mais.
A verdade é que por mais que inventasse comparações olhando pela janela do carro nada poderia explicar o que se passava, e nem faria o carro andar mais rápido...
Enfim, no local! O grande momento! Parou na entrada e teve vontade de chorar. Não podia, porque não sabia retocar a maquiagem que a tia tinha feito no dia anterior. Sabe aquela expressão, cavar um buraco e entrar nele? É isso!
É mas ainda não havia chego exatamente o momento.
Precisava pegar uma senha!
Senha que definiria o horário exato? Como assim?
Passou o dia agarrada na tal senha que era para não perder. E deve ter passado uns trinta anos até chegar o momento exato.
Enfim, agora estava próximo. Não tinha mais como voltar atrás. Cada passo que dava em direção à porta, sinos tocavam, as pernas tremiam, as mãos gelavam e transpiravam. De tão nervosa caía em gargalhadas desesperadas que misturavam-se às lágrimas. Ninguém entendia nada. Nem ela entendia. A verdade é que não tinha mais controle sobre seu corpo e sua mente.
A porta abriu, os sinos tocaram MUITO mais alto!
Ele estava lá!
Lindo como sempre sonhara, todo de branco, com aquele brilho especial nos olhos e esperando por ela com os braços abertos e com o sorriso mais lindo do mundo.
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Algum tempo depois a garota encontra-se sentada pálida em um banquinho, olhar fixo nas costas de uma estátua de mármore, chorando desesperadamente. Como fora parar ali? Ninguém viu. Nem mesmo ela. Apenas chorava. Chorava muito. Algumas pessoas se aproximavam preocupada, mas ela não podia falar. Todos se afastaram. Em seu semblante era notório que eram lágrimas de amor. De um amor que se consolidou pela primeira vez!
Depois de muitos e muitos e muitos instantes as lágrimas foram reduzindo, a pele corando novamente e o espírito retornando ao corpo depois do estado de transe.
Enfim uma frase:
-Eu não sei o que senti, mas senti que a partir de hoje nossas vidas vão se cruzar muitas e muitas vezes.
Muito tempo passou desde que esta história se passou.
Realmente ela tinha razão!
A partir deste dia seus caminhos se cruzaram muitas e muitas vezes.
A menina cresceu.
Ele a ajudou a se descobrir como pessoa, a ter certeza dos seus princípios, valores.
Ajudou a se descobrir e se amar como mulher, pintou o cabelo de preto, vermelho, marrom, amarelo, branco. Ajudou a experimentar roupas extravagantes, roupas comportadas, unhas de todas as cores, maquiagens de todos os tipos, até saber o que realmente gosta e lhe cai bem ou não.
Esteve presente nos dias em que o tema eram outras caras.
Esteve presente em todos os aniversários.
Apresentou grandes e eternos amigos-irmãos!
Ajudou a ter certeza do caminho profissional a trilhar. A ter um plano de vida e lutar com todas as forças por ele.
Ele a colocou para dormir em dias difíceis.
Fez ela sorrir nos dias de TPM e de problemas intermináveis.
Esquentou nos dias frios.
Esfriou nos dias quentes.
Ajudou a estudar nas longas e intermináveis madrugadas.
Ajudou a suportar trabalhos difíceis, pessoas difíceis.
Ajudou a chegar em lugares que nem mesmo ela imaginava chegar.
Quantos abraços, beijos, palavras doces, palavras duras. Quantas flores!
Sabe uma pessoa realmente capaz de mudar uma vida? A ex garota pensa todas as noites em como teria sido triste sua vida sem ele. E chega à conclusão de que simplesmente não teria sido. Então ela ajoelha e agradece à Deus e só pede que ele seja feliz, porque ele a faz muito feliz.
E a ex garota é essa que lhes escreve hoje, com lágrimas nos olhos e coração apertado de saudades deste dia que completam amanhã 11 anos.
Ele é aquele cara, baixinho, que canta e encanta com sua voz, seu sorriso e seu olhar. Aquele baixinho de alma e coração gigantes. Aquela voz que acalenta, acalma e transporta. Aquele sorriso que arranca qualquer dor que tiver no teu peito. Aquele olhar que é imensidão. E aquele abraço que te leva em transe para outras e outras dimensões... mesmo tendo se passado tantos anos...
"Você me faz sonhar, me faz realizar, me faz crescer, me faz FELIZ. É mais do que paixão, é mais do que prazer é amor que não tem fim".
